Não há mais espaço para infelicidade
“Não tenho mais nada a pedir ou reclamar, porque está tudo completo”. Assim, Maria Gonçalves (40) define a própria vida hoje em dia. Ela foi protagonista de um caso em 2009, cuja repercussão se tornou nacional. Comprovou-se que Maria nunca fora portadora do vírus HIV, da AIDS. Situação diagnosticada positivamente em 2003, o que a fez conviver com a rotina dos coquetéis por mais de sete anos, sendo que nunca foi soropositivo.
Hoje, ao invés das lágrimas que, na época lhe caiam pela face, Maria conta a história com um enorme sorriso estampado no rosto. A superação fez com que o desemprego, o rancor e o preconceito da sociedade ficassem para trás. “Hoje, nós temos trabalho e saúde. Nossos filhos estão bem, também, todos estudando. Conseguimos algumas coisas. A gente não tinha nem carro. Hoje, não temos do que reclamar perante a sociedade, às pessoas. Está tudo certo. Não tem mais preconceito. Todo mundo entendeu que foi erro médico. Hoje, nós temos vida perfeita”, conta ela.
Do mesmo sentimento compartilha Sério Baungartner (50), marido de Maria, que, ao lado dela, segurou muitos problemas morais e financeiros. “Dez vezes melhor do que estava, né? Não tem comparação, é ótimo. Hoje, a gente tem cabeça para trabalhar, vive uma vida boa, calma e tranquila. Sem aquela agitação que a gente vivia”, relembra ele. Em meio aos risos, Sérgio olha com timidez para esposa e afirma: “Agora quero continuar vivendo feliz. Levar vida ao lado da Maria”.
Para a pequena Tainara Baungartner (12), uma das filhas do casal, os depoimentos do pai e da mãe condizem com aquilo que ela também está vivendo. “Era muito difícil para mim conviver no meio das brigas. Mas melhorou muito. Eu falo com as minhas amigas sobre isso e conto a história da minha mãe. Elas me ajudam, me apóiam e, às vezes, até choram”.
Por todos esses problemas, Maria decidiu entrar com uma ação pedindo indenização por danos morais contra o Laboratório Central de Santa Catarina, o médico responsável na época e também o município Brusque. Segundo Luiz Gustavo de Santana, advogado de Maria desde o início do caso, o processo está na etapa final.
“Já foram realizadas audiências, ouvidos os depoimentos. O laboratório não compareceu. Todos eles apresentaram defesa escrita no processo e negaram qualquer tipo de erro, jogando a culpa um ao outro. Nós acreditamos em erro, claro, do médico, negligente em não realizar dois exames como era exigido. Erro do município, que não fiscalizou a ação dos empregados, e erro do Lacen, que também tinha o HIV positivo nos registros.”, relata ele.
Ainda de acordo com o advogado, a sentença deve sair em, no máximo dois ou três meses e a tendência é que ela seja favorável para Maria.
Para ela, o dinheiro, na verdade, não vai mudar nada. Toda a mudança que queria já conseguiu: o respeito da sociedade e a boa convivência com os filhos e o marido. Com humildade, Maria afirma que, se vir, não quer uma casa nova ou algo melhor do que eles possuem. O sonho é ajudar aqueles que sofrem do mesmo problema que ela sofreu.
“Eu quero mesmo é ajudar uma pessoa que tenha HIV. Já acompanho um caso. Porque eu, que não tive, já sei como é difícil. Então imagina para um pai e uma mãe que têm uma criança de um ano com HIV. Quero ajudar esse bebê a não passar pelo que eu passei. Tem que acabar o preconceito. Que as pessoas se juntem e façam algo por alguém que tenha o vírus”, finaliza ela.